Criada em São Paulo há seis anos, a empresa de entregas Carbono Zero Courier substitui motoboys por ciclistas e ajuda a diminuir a emissão de toneladas de gás carbônico
POR BRUNO SEGADILHA | FOTOS ANNA CAROLINA NEGRI
Pelo menos duas vezes por semana, Leonardo Lorentz, 43 anos, pedala pelas ruas de São Paulo para visitar clientes. Percorre cerca de 40 quilômetros para dar exemplo a seus funcionários e para vender melhor seu negócio. Há quatro anos ele comanda a Carbono Zero Courier, especializada em entregas expressas que não emitem gás carbônico no ambiente. Os funcionários podem ir a pé, usar um carro elétrico, uma scooter, também elétrica, ou ir de bicicleta, meio usado em 90% das entregas. “Vi que não adiantava vender a ideia se eu próprio não a comprasse. Vou pedalando mesmo”, diz.
As pedaladas de Lorentz, no entanto, são nada comparadas às de seus 125 profissionais. Por dia, cada um anda cerca de 70 quilômetros pela Grande São Paulo e pela Baixada Santista, onde a empresa também atua, fazendo todo tipo de entrega: de documentos a quentinhas, passando por fogões e geladeiras. Entre os cerca de 500 clientes atendidos por ano estão restaurantes, lojas e um laboratório veterinário. Pessoas físicas também podem contratar o serviço. Basta entrar no site, digitar a sua localização e para onde deseja mandar a encomenda ou o objeto. O preço, a distância a ser percorrida e a emissão de gás carbônico evitada são calculados na hora.
A empresa nasceu em novembro de 2010, a partir do sonho dos irmãos Danilo e Rafael Mambretti de colaborar para uma cidade mais sustentável. Ex-traineede Lorentz em uma grande multinacional, Rafael procurou a ajuda do antigo chefe, três anos depois da fundação, para fazer com que o negócio expandisse e deixasse para trás os dias de amadorismo: a sede ficava em uma salinha na região dos Jardins, em São Paulo, e os funcionários anotavam tudo à caneta, fazendo contas com uma calculadora ou na mão.
Mesmo com a estrutura pequena, o empresário viu um grande potencial no negócio. Em vez de uma simples consultoria, sugeriu que ele mesmo entrasse de sócio. “Pedi um preço altíssimo pela consultoria pois sabia que eles não poderiam pagar. Expliquei que o pagamento seria a minha entrada. Eles toparam na hora”, lembra. Funcionário de uma grande empresa, Lorentz decidiu abandonar os dias de executivo para se dedicar exclusivamente à Carbono Zero. Pouco tempo depois, os fundadores resolveram deixar o sonho para seguir outros caminhos e entregaram a gestão nas mãos de Lorentz, atualmente sócio majoritário.
A primeira providência foi informatizar o sistema.
Hoje, por meio de um aplicativo de localização, a empresa tem total controle de onde está cada funcionário e consegue enviá-lo para diferentes serviços, dependendo da região, otimizando as entregas. Assim, se duas empresas ou pessoas em um mesmo bairro solicitam uma entrega parecida, apenas um funcionário executa o trabalho. Com isso a encomenda sai mais em conta para os dois clientes.
As mudanças se traduziram em resultados impressionantes. A empresa cresce, em média, 55% ao ano. Só em 2016, faturou mais de R$ 2 milhões. A ideia é que até 2020 a Carbono Zero tenha quintuplicado seu tamanho e caminhe sozinha, sem supervisão direta do dono. “Hoje fica tudo na minha mão, mas quero ter pessoas que possam treinar outras, e fazer a empresa andar sem mim. Gostaria de tirar férias.” Hoje o empresário consegue reservar apenas cinco dias por ano para o descanso, para chateação da mulher e da filha de 5 anos. “O bom é que minha mulher é bióloga. Então, mesmo com esse obstáculo, ela apoia o trabalho pois acredita na importância da ideia.”
Lorentz afirma que, com o tempo, foi incorporando mais e mais o conceito de sustentabilidade ao seu cotidiano. Hoje, poucas vezes, recorre ao seu veículo. De Sorocaba, onde mora, até São Paulo pega um ônibus.
Nas ruas da capital paulista, usa apenas a bicicleta, lembrando os tempos de infância e adolescência em Belo Horizonte, onde nasceu. Apaixonado pelo tema, o diretor lamenta que ainda seja pequeno o número de empresários que tenham algum tipo de preocupação com o assunto.
Sobre o perfil de funcionários, ele explica que a Carbono Zero é bastante democrática. Não é preciso ser atleta ou ciclista profissional. “Tem gente que está estudando e quer fazer uma grana. Tem funcionário que chegou aqui porque perdeu o emprego ou foi traído pela mulher, levou uma rasteira e achou que pedalando poderia esfriar a cabeça, pensar na vida, porque é uma atividade agradável”, diz.
Com o crescimento da carteira de clientes, a empresa abre novas vagas regularmente. Para trabalhos esporádicos, é preciso ter sua própria bicicleta. Já os funcionários fixos trabalham com as da empresa — ao final de um ano, ganham a bike se ela estiver em bom estado de conservação. Mas é bom se preparar. Além de fôlego, o interessado tem que mostrar atenção e agilidade. Afinal, o cliente, mesmo preocupado com o meio ambiente, não tem tempo a perder.