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Startup de bike courier Carbono Zero cresce mostrando que é a forma mais eficiente de percorrer a última légua

Conhecida há centenas de anos, a légua é uma medida que varia de acordo com o local e a época a que nos referimos. As diversas léguas que existiram ao longo da história oscilavam entre 2 e 7 quilômetros de distância. Aqui no país, convencionou-se chamar de uma légua a distância de 6,6 quilômetros.

Seja qual for essa relação, a startup paulistana de entregas de documentos e produtos Carbono Zero garante: uma bicicleta é a forma mais eficaz de percorrê-la. É baseado nesse statement que se sustenta o empreendimento, um dos cinco selecionados para o programa de aceleração TheHop Brasil, promovido pela cervejaria Estrella Galicia até fevereiro de 2020.

A Carbono Zero, como o nome sugere, trabalha apenas com meios de transporte que não emitem gases de efeito estufa

Além das bicicletas, os entregadores usam veículos elétricos como bikes, scooters e furgões.

A última milha é, segundo Leonardo Lorentz, sócio e gestor da Carbono Zero, o trecho mais complexo e caro da logística. “A bicicleta é comprovadamente muito mais eficiente para esse percurso do que qualquer outro veículo, inclusive moto”, afirma. “Isso sem contar nosso ‘efeito colateral’, que é fazer nossas entregas sem barulho, sem emissão de poluição e sem piorar o trânsito.”

Em uma cidade como São Paulo, onde a Carbono Zero mantém sua sede, o congestionamento é um problema constante, que torna muito pouco prática uma entrega feita por carro. A procura por um local adequado para estacionar também limita e atrasa os trabalhos feitos por motos. Por isso cada vez mais empresas optam por um bike courier, que é capaz de fazer até 30 entregas e percorrer, em média, 80 quilômetros todos os dias.

UMA CONSULTORIA QUE VIROU SOCIEDADE

Foi isso, mais o apelo da sustentabilidade, o que Leonardo enxergou quando, em 2012, um rapaz que havia sido seu estagiário procurou sua empresa de consultoria especializada em estratégia de negócios. “Ele e seu irmão tinham aberto, dois anos antes, uma empresa com o objetivo de mudar o mundo. O negócio era os dois e dois ciclistas na rua, que faziam entregas só na região central de São Paulo”, lembra.

Leonardo Lorentz, o gestor da Carbono Zero
Leonardo Lorentz, o gestor da Carbono Zero

 

Quando chegaram em Leonardo, os irmãos já tinham 25 ciclistas. “Vi um negócio que me fascinou. Foi a menor empresa para a qual eu dei consultoria naquela época, mas ela tinha um imenso potencial. Enxerguei além do que os dois viam. Eles viram uma demanda e uma oportunidade, mas não sabiam como atender isso. Não sabiam como captar dinheiro, como mobilizar pessoas, como crescer. Percebi que aquele negócio poderia ser muito maior do que era.”

Leonardo fez então um planejamento de crescimento para os irmãos. Eles adoraram, disseram que era exatamente aquilo que queriam e perguntaram quanto custaria. “Respondi que custava um ano do faturamento da empresa deles.” Diante do espanto dos sócios, Leonardo disse que não queria receber em dinheiro, e sim em participação do negócio.

Ele propôs que ajudaria os fundadores a colocar o plano de crescimento em pé em dois anos e meio, mas para isso queria um quarto da empresa

Transformado em sócio da Carbono Zero, Leonardo Lorentz virou o fiel da balança em todas as decisões. Até que os irmãos brigaram entre si e acabaram deixando a empresa. “Eles tinham uma coisa de ser do bem muito forte. Me disseram para eu tocar o negócio e depois a gente acertava. Se não fosse assim, eu não teria como pagar por ele naquele momento”, afirma. Na época, a startup já estava avaliada em R$ 400 mil.

Em 2015 Leonardo fez uma primeira rodada de captação de fundos com amigos e investidores, para a qual levantou R$ 320 mil. Desde então, aconteceram mais duas captações de equity crowdfunding, uma em 2016 (R$ 346 mil) e outra agora em novembro (mais R$ 450 mil). Com os recursos, Leonardo foi expandindo o negócio ano a ano, atendendo mais clientes, contratando mais ciclistas, aumentando a equipe administrativa, ganhando mais modais e atuando fora do centro do expandido e depois fora de São Paulo até as cidades vizinhas e a Baixada Santista.

“Acrescentamos ao negócio pelo menos duas inovações ao ano”, afirma Leonardo

Recentemente, por exemplo, a startup passou a fazer entregas a partir de lockers, ou guarda-volumes terceirizados que existem na cidade, em que deixam seus produtos para serem coletados pelos bikers e distribuídos. Ela também desenvolveu em parceria com uma marca chinesa uma bicicleta elétrica com autonomia de 90 quilômetros, que vai começar a ser importada – e futuramente, por que não?, comercializada por eles.

Além do delivery de produtos e documentos, a Carbono também passou a fazer pequenos serviços. Para a Nextel, por exemplo, eles não só entregam chips para o consumidor final como também os instalam. O mesmo ocorre com máquinas de cartão de crédito. “Coletamos também bituca de cigarros de bituqueiras para uma empresa que a transforma em adubo”, conta Leonardo. “A Carbono cresce numa velocidade de 43% ao ano todos os anos. Na última avaliação de mercado, alcançamos os R$ 9 milhões.”

Mais de 500 clientes usam ou já usaram os serviços da startup, como as gigantes Natura, Fleury, B2W, Mercado Livre, Google e Netflix. “Laboratórios, empresas de e-commerce, cartórios e até transportadoras como a DHL são nossos clientes”, diz Leonardo. “As empresas nos contratam por dois motivos basicamente: ou buscam eficiência, e têm a sustentabilidade como bônus, ou buscam sustentabilidade – desde que tenham eficiência”, afirma.

“Elas entenderam que temos facilidade para chegar principalmente nas partes mais conturbadas dos centros urbanos.”

O preço das entregas, segundo o empreendedor, é competitivo – o que não significa que seja o mais barato, até porque a Carbono incorporou ao custo o benefício de ser a opção que mais vale a pena na última légua. Os serviços dela podem ser contratados de diversas formas: por distância, por tempo, por quantidade de entregas. Um app indica aos bikers os produtos que eles devem transportar, os locais, as datas e os valores. Ao cliente, fica a segurança de saber exatamente onde está sua entrega, que é rastreada.

CRESCIMENTO ACELERADO CULMINA COM ACELERAÇÃO NO THEHOP

Hoje, a empresa trabalha com 245 bikers, 10 pilotos de scooter e três de furgão elétrico, todos contratados. Tem, além de sua base, outros cinco centros de armazenamento em São Paulo, para facilitar a distribuição pelas várias regiões da cidade. Os ciclistas já pedalaram, nos nove anos que a empresa acaba de completar, 5,6 milhões de quilômetros, ou 140 voltas em torno da Terra. A cada serviço, o sistema calcula e exibe a emissão de CO² evitada e a disponibiliza em relatórios. As entregas da Carbono Zero deixaram de emitir até hoje 712 toneladas do gás de efeito estufa na atmosfera.

Leonardo calcula que a startup deva bater 100 mil entregas por mês, com 300 bikers, até o fim do ano. A expectativa de faturamento é de R$ 4 milhões – ante R$ 3 milhões de 2018. “Queremos alcançar os R$ 20 milhões em quatro anos. Para isso, basta mantermos a mesma taxa de crescimento”, afirma ele. Os planos incluem abrir novas bases primeiro em grandes cidades do estado de São Paulo, e depois país afora.

O principal desafio que a Carbono encontra para esse crescimento, além do caixa, é a alta tributação que incide sobre seus principais ativos: as bicicletas e os veículos elétricos. “Uma bicicleta paga mais imposto do que um carro popular. Sobre a bicicleta elétrica, a taxação é de 105%. Um veículo que não polui deveria ter incentivo”, defende.

O CDO da Estrella Galicia, JJ Delgado, e os participantes do TheHop em uma das dinâmicas do programa

 

Leonardo acaba de voltar de uma semana intensa na Espanha com os executivos da Estrella Galicia. Uma das cinco startups selecionadas pelo Programa de Empreendedorismo Colaborativo TheHop Brasil, a Carbono Zero passa pelo processo de aceleração que segue até fevereiro de 2020. “Entramos nesse projeto talvez sem entender a real dimensão do que estava por vir”, confessa Leonardo, que está agora ocupando, ao lado de representantes das outras startups escolhidas, uma sala exclusiva no coworking Spaces Vila Madalena.

“Aqui, os executivos estão fazendo a mesma coisa que fizeram na Europa conosco. Temos uma série de dinâmicas e a equipe deles à disposição para nos auxiliar com mentorias e com debates sobre o cenário de negócios”, conta.

“Estávamos aqui hoje mesmo discutindo um planejamento estratégico com eles e desenhando o que vamos fazer juntos. Estamos criando alternativas, construindo possibilidades em conjunto, para ver como avançamos. É um programa de aceleração que tem também o foco de gerar negócio com a Estrella Galicia. Isso torna o projeto com uma dimensão maior do que imaginávamos. E, claro, muito mais interessante.”

 

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